Um brinde à vida longa
Existem várias versões para o surgimento do brinde. Uma delas diz que o costume de bater as taças surgiu para que o vinho espirrasse de uma para outra. A ideia era evitar que o anfitrião dissolvesse veneno no líquido de algum convidado – o próprio envenenador, no final, também acabaria intoxicado.
Outra versão afirma que a tradição apareceu quando os adoradores do vinho se deram conta de que a bebida conseguia provocar todos os sentidos, menos a audição. Por isso, adotaram o ritual de tocar as taças de modo que se ouvisse o tilintar dos cristais.
Conjecturas à parte, o fato é que hoje, em várias partes do mundo, não há ocasião especial, do Ano Novo a uma vitória esportiva, que não se celebre brindando.
Na França, usa-se o champanhe – o clássico vinho borbulhante produzido na região de Champagne à base de uva pinot, meunier ou chardonnay. Para acompanhar o festivo brinde, os franceses dizem “santé” (saúde), “longue vie” (vida longa) ou simplesmente “tchin tchin”. Assim que as taças se tocam, cada pessoa deixa sair a felicidade que tem dentro de si para compartilhá-la com todos que estão ao redor.
Na França, o brinde antecede a viagem de sabores da sua gastronomia
Madame, monsieur. O garçom pede licença e apresenta o rótulo. Você acena com a cabeça. Aos poucos, as gotas do tinto tomam o fundo da taça. Após ser agitado com delicadeza, o Bordeaux mostra a que veio após o período de barrica. Honra também os anos que passou trancado naquela garrafa. Posta contra a luz, a taça revela uma coloração densa, contundente. No nariz, o perfume ecoa intenso, evocando frutas maduras e um quê de amêndoas. Aveludado e auspicioso, vai preenchendo o paladar sem afobação. Tem personalidade, porém sem excessos. Pouco a pouco conquista todo o palato, que dá seu veredito ao garçom: pode servir, por favor.
Das mais singelas às mais sofisticadas, o vinho é o abre-alas de qualquer refeição na França. E também um dos pilares de um roteiro enograstronômico pela terra que sintetizou o ato de degustar. Espécie de ouro líquido, a bebida pode impulsionar uma busca – praticamente sem fim, é verdade – pela harmonização perfeita.
Da Alsácia ao Languedoc, da Córsega à Champagne, do Beaujolais ao Vale do Loire, não faltam regiões perfeitas para semear, cultivar, colher, maturar e engarrafar alguns dos melhores vinhos que há. Sem esquecer a expertise, que cruza os séculos, de geração em geração. Barris em caves quilométricas ganham status de cofres, tamanha a perfeição de várias destas joias líquidas. De saberes e terroirs, eis um chão fértil. Porém, não apenas de brancos, tintos, espumantes e conhaques.